sexta-feira, 1 de junho de 2012

Projeto Quesito Raça Cor



UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA – NE@AD
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLITICAS PÚBLICAS DE GÊNERO E RAÇA








IMPLANTAÇÃO DO QUESITO RAÇA/COR NO CAPS ad










Cachoeiro de Itapemirim – ES
2012
Considerações Gerais Sobre a Instituição Proponente:

O CAPS ad foi inaugurado em fevereiro de 2012 e no momento atende em torno de 50 pessoas cadastradas, mas este número está crescendo a cada dia. A referida unidade é a porta de entrada do paciente dependente de álcool e outras drogas no Sistema Único de Saúde, representa uma unidade especializada em saúde mental que atende pessoas com problemas decorrentes do uso ou abuso de álcool e outras drogas, é um serviço ambulatorial territorializado que integra uma rede de atenção em substituição à “internação psiquiátrica", e que tem como princípio a reinserção social. Realiza ações de assistência (medicação, terapias, oficinas terapêuticas, atenção familiar), de prevenção e capacitação de profissionais para lidar com os dependentes e também com seus familiares. Sob esse prisma entramos na questão de gênero e raça no espaço de saúde, sabemos que a mulher em nossa sociedade carrega um papel social que lhe atribui algumas funções específicas, principalmente de cuidadora, mas esse papel se modifica quando a dependência química é percebida pela sociedade, assim, ser mulher, negra e usuária de droga em nossa sociedade é condição estigmas. Da mesma forma acontece com o negro, que já é discriminado por causa de sua cor, muitas vezes recebe o estigma de usuários de droga e até criminoso.  Mediante essas resistências e violências pelas quais esses grupos passam em nossa sociedade o CAPS ad de Cachoeiro de Itapemirim procura pautar sua atividade com comprometimento na promoção da igualdade de gênero e raça na área da saúde dos referidos grupos.
Justificativa:
Considerando o conceito de saúde defendido pela Organização Mundial de Saúde: saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças, para que a saúde alcance de forma igualitária toda a população é importante destacar a relevância da raça/cor nos sistemas de informação em saúde para o estudo do perfil epidemiológico dos diferentes grupos, pois a característica que os define pode subsidiar o planejamento de politicas públicas mais equânimes que levem em conta as necessidades específicas dos mesmos.
Segundo Werneck (2010) o conceito de saúde da população negra esta ancorado em três aspectos importantes: a politica, a ciência e a cultura afro-brasileira. Destaca, além disso, três processos de saúde e doença dessa população o racismo (que influencia as condições de vida e saúde), vulnerabilidade associada a determinados agravos ou doenças e o aprendizado e vivência das culturas e tradições afro-brasileiras. Os agravos dentro de uma perspectiva étnico-racial são de fundamental importância uma vez que poderá influir na forma de fazer politicas públicas nesta área.
Em relação ao perfil epidemiológico com destaque para o quesito cor apresentam-se alguns dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2003, para o Estado de São Paulo e informações encontradas em outros estudos:
        Tuberculose, diabetes, alcoolismo e hipertensão também são causas de morte mais comuns entre negros do que entre brancos. (Batista, L. E. – 2002)
        Em relação aos planos de saúde os brancos apresentaram maior cobertura a esses serviços (44,2%) do que os negros (25,3%). Foram verificadas diferenças de gênero na proporção de cobertura por planos de saúde. Esta situação é mais frequente entre as mulheres, apesar de que as mulheres negras tiveram uma proporção de cobertura menor que a verificada entre os homens brancos (27,2% e 42,1%, respectivamente). Em contrapartida, os negros estão mais presentes no SUS, tendo em vista que 57,9% de negros com 15 anos e mais declararam ser atendidos no SUS, sendo que os brancos alcançaram 34,9%%.
        Cerca de 16% das mulheres negras de 40 a 49 anos nunca realizaram mamografia sendo que entre brancas este percentual foi de 11% (PNAD-2008).
        Em 2008 a taxa de incidência de tuberculose em indivíduos negros no Município de São Paulo foi de 37,35/100.000 e para brancos foi de 26,51/100.000. O mesmo ocorreu com a aids em 2008, cuja taxa de incidência em indivíduos negros (pretos+pardos) foi de 32,76/100.000 e para brancos 20,38/100.000. No entanto, quando desagregada esta taxa ficou em 41,78/100.000 para pretos e 18,94/100.000 para pardos (MS/SVS/SINAN-Net e Programa Nacional de DST/AIDS, Fundação IBGE – PNAD 2008).
        Na Pesquisa de Emprego e Desemprego (SEADE/DIEESE - PED 2009) o nível de instrução de indivíduos de 15 anos ou mais de idade segundo raça/cor para o município de São Paulo mostrou que 5,4% dos negros e 2,8% dos brancos são analfabetos. A proporção de mulheres negras analfabetas (6,2%) é quase o dobro das brancas (3,3%). No que se refere ao ensino superior 18% dos brancos possuem completo, enquanto que apenas 4,3% dos negros possuem ensino superior. Ou seja, os brancos com ensino superior são quatro vezes mais que os negros.
        Enquanto apenas 1,9% da população branca nunca havia ido ao dentista, essa proporção foi de 4,4% entre os negros.
O cenário traçado com os dados da PNAD Saúde 2003, 2008, 2009 reafirma a situação de maior vulnerabilidade da população negra no acesso e utilização dos serviços de saúde, impondo a reafirmação de políticas públicas específicas e mais eficazes, que promovam ações afirmativas e superação das diferenças históricas verificadas entre as populações branca e negra. Cabe aos profissionais dos serviços de saúde adotar todas as medidas necessárias para a promoção da igualdade racial, a fim de favorecer a redução dos agravos à saúde da população negra na cidade Cachoeiro de Itapemirim.
Objetivo:
        Favorecer a produção de informação e o uso desta para a gestão de políticas públicas em melhoria das condições de saúde para a população negra da cidade de Cachoeiro de Itapemirim.
Objetivos Específicos:
        Qualificar as práticas de saúde, através da capacitação de profissionais na abordagem da coleta do quesito nos serviços de saúde.
        Introduzir o quesito Raça/Cor no sistema de Informação no CAPS-ad e provocar a implantação no Sistema de Informação da Secretaria Municipal de Saúde.
         Possibilitar a análise do perfil epidemiológico do município incluindo um recorte étnico racial.
        Construir com os representantes de gestão da Secretaria Municipal de Saúde ações estratégicas para consolidação da política de saúde integral da população negra no âmbito deste município.
        Considerando que as condições sociais provocam impactos na saúde; que associamos as piores condições de vida e acesso a bens e serviços de saúde de qualidade à mortalidade por tuberculose, malária, doença de Chagas, HIV/ Aids, alcoolismo, morte materna, morte sem assistência, morte por causas mal definidas e causas externas; e sendo a população negra aquela que, em nossa sociedade, possui as piores condições de vida, então a mortalidade por tais causas provavelmente será maior para os negros. (LAURENTI, 1998)

 Metas/Produtos/Resultados Esperados:
Acredita-se que, como resultado, seja possível dar maior visibilidade as necessidades da população negra, de forma a serem contemplados suas especificidades nos projetos e programas e implementados pela Secretaria Municipal de Saúde. De posse dos indicadores de saúde com recorte étnico racial será possível o monitoramento e avaliação do alcance dessa politica. Espera-se que essa iniciativa de coleta, processamento e análise do quesito raça/cor contribua para promover equidade na saúde em Cachoeiro de Itapemirim.
Público Alvo:
Pessoas dos vários grupos sociais, usuários do SUS, pertencentes a qualquer faixa etária e condição econômica, moradores da zona urbana e também da zona rural.
Metodologia/Estratégia de Ação:
 O presente projeto será apresentado a Secretaria Municipal de Saúde e após aprovação esta se responsabilizará juntamente com apoio financeiro da prefeitura municipal pela capacitação dos profissionais de saúde, reuniões de equipe que poderá ser coordenada por um representante do movimento negro ou por um aluno dessa Especialização de Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça (voluntário), visando a orientação para a coleta adequada dos dados pelos profissionais dos serviços de saúde. Os funcionários devem estar sensibilizados a causa da necessidade de trabalhar para que os dados estatísticos que revelam o desnível de condições de saúde entre os grupos étnicos se desnivele, após manifestação de interesse estes divulgarão o projeto na forma de panfletos e banner. O projeto se inicia no CAPS ad com a coleta do quesito raça/cor, devendo o preenchimento do campo respeitar o critério da auto declaração do usuário de saúde, dentro dos padrões utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que constam nos formulários dos sistemas de informações da saúde (branca, preta, amarela, parda ou indígena), a auto declaração é a única forma possível, o ideal é como o individuo se percebe e não como é percebido.  Todos os 18 funcionários do CAPS ad estarão envolvidos no serviço de coletar informações que julgarem necessárias para efetividade de projeto, incluindo os 3 técnicos de enfermagem, 2 médicos, 2 enfermeiros, 1 terapeuta ocupacional, 1 auxiliar de administração, 2 recepcionistas, 2 auxiliares de serviços gerais, 1 psicóloga, 1 assistente social, 1 artesã e 4 vigias que revezam em turnos.   Sendo que estes não receberão dinheiro a mais para realizar este projeto, somente os benefícios de estar contribuindo para a facilitação de acesso a saúde de muitas pessoas que foram discriminadas em nossa sociedade.
 Os dados serão analisados coletados inicialmente no CAPS ad pelos profissionais envolvidos e de posse deles a coordenadora do serviço encaminhará o relatório a Secretaria de Saúde do Município na pessoa de sua secretária ou subsecretária demonstrando importância de sua coleta de forma a estimular maior visibilidade da saúde da população negra, assim, o quesito poderá ser implantado em todos os sistemas de informação dos serviços de saúde do Município, já que os profissionais do CAPS ad já viveram essa experiência poderão ajudar as outras equipes, possibilitando que seja traçado o perfil epidemiológico com recorte étnico/racial e a partir deste planejar e reafirmar políticas públicas específicas e mais eficazes, que promovam ações afirmativas e superação das diferenças históricas verificadas entre a população branca e negra principalmente no que se refere ao acesso e utilização de serviços de saúde.
Prazo:
Elaboração do Projeto: Mês de Maio de 2012.
Qualificação dos profissionais de saúde: Mês de Junho, Julho de 2012.
Quesito Raça/Cor CAPS ad: A partir do mês de Agosto de 2012.
Análise do Perfil Epidemiológico: Mês de Novembro de 2012.
Construção do Políticas Públicas: A partir de dezembro de 2012.

Sustentabilidade:
O referido projeto pode e deve manter-se renovado e atuante, mesmo depois do apoio oferecido pelo CAPS ad na aprendizagem da coleta, análise dos dados e apoio na sensibilização dos funcionários dos serviços de saúde municipais a esta causa. Visto que ele traz benefícios para a saúde da população, além disso, é mais lucrativo economicamente trabalhar prevenção do que dar assistência em níveis mais avançados de doença. Porém, para sua efetiva implementação este projeto deverá contar sempre com apoio da comunidade para divulgação e com o poder público em seus diferentes níveis no desenvolvimento de políticas.
Detalhamento dos Custos:
Material
Quantidade
Valor Unitário
Valor Total
Panfletos
1000.00
1,00 real
1000,00 reais
Camisas para Funcionários
Da Prefeitura
200
13,00 reais
2600,00 reais
Novas Fichas de Cadastro que
Contemplem o Quesito Raça/ Cor
3000,00
1,00 real
3000,00 reais
Banner
3
90,00
270,00 reais
Total


6870,00 reais


*Capacitação dos Profissionais não entra no detalhamento dos custos, pois será feita por voluntários.
Declaração de Contrapartida:
A unidade proponente deste projeto, CAPS ad, não participará com nenhum investimento financeiro, pois este deverá vir da prefeitura. Mas oferecerá mão de obra qualificada para colaborar na divulgação e implementação deste projeto.
Declaração de Adimplência:
                     x
Cronograma de Execução:







Metas
Etapa / Fase
Especificação
Indicador Físico
Unidade
Duração
Quantidade
Início
Término
coleta, processamento e análise do quesito raça/cor de forma a estimular maior visibilidade da saúde da população negra
Pré-produção
- Capacitar os profissionais na abordagem da coleta do quesito nos serviços de saúde.
- Analisar o perfil epidemiológico do município incluindo um recorte étnico racial;



dias
30
01 de maio de 2012
31 de maio de 2012
Produção
- Introduzir o quesito Raça/Cor no sistema de Informação no CAPS-ad

- Provocar a implantação no Sistema de Informação da Secretaria Municipal de Saúde

- Construir em parceria com a Secretaria de Saúde municipal, ações estratégicas para consolidação da política de saúde integral da população.

dias
90
01 de junho de 2012
30 de agosto de 2012
Finalização
dar maior visibilidade as necessidades da população negra, de forma a serem contemplados suas especificidades nos projetos e programas a serem implementados pela Secretaria Municipal de Saúde.

dias





Cronograma de Desembolso:
O apoio financeiro precisará ser liberado pela prefeitura municipal de Cachoeiro de Itapemirim de uma única vez no inicio do mês de junho.

Referência Bibliográfica:
Boletim CEInfo Análise | Ano VI, nº 05, Maio/2011. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicacoes/Boletim_Raca_Cor.pdf. Acesso em: 20/05/2012.

HEILBORN, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia (orgs). Gestão de políticas públicas em gênero e raça/GPP-GeR: módulo 5. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.

[S.a.]. Historia do conceito de Saude. Organização Mundial de Saúde: Rio de Janeiro/PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03.pdf. Acesso em: 20/05/2012.

Laurenti R 1998. Perfil epidemiológico da saúde masculina na Região das Américas: uma contribuição para o enfoque de gênero. Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo. 

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2003, 2008 e 2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/default.shtm. Acesso em: 20/05/2012.

 Werneck, J – Saúde da População Negra (Passo a Passo: defesa, monitoramento e avaliação de políticas públicas), Criola, Rio de Janeiro, julho, 2010.

Download do projeto 

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